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» » » » » Clara de Noronha: “A mulherada tá cansada de ficar na plateia”

A poetisa e mc Clara de Noronha fala da sua militância no hip hop (foto: Pritty Reis)

“Meu rap é veneno, meus versos não tem bula e também não é remédio” é o que afirma a paulista radicada em Sergipe, Clara de Noronha, com a convicção de quem quer contagiar a cena com sua lírica afiada. Aos 22 anos, ela vem se destacado como uma das vozes femininas mais contundentes não só do hip hop, mas também dos movimentos culturais e feministas.

Poetisa, ela lançou em 2015 pelo Selo Debaixo o livro de bolso “Chama na rima, mina” e foi com o coletivo Sarau Debaixo, onde fez ocupação de guerrilha cultural no viaduto do D.I.A. por dois anos. Este ano já lançou um clipe, apresentou um novo projeto, o Guerrilheiras e promete muito mais. A entrevista que segue aborda o seu mergulho cada vez mais profundo no hip hop. “A cada dia que passa me sinto mais envolvida dentro do movimento hip hop , quanto Mc e militante do movimento ,ter estado no V Fórum de Mulheres do Hip Hop ( realizado em São Paulo em 2016) foi importantíssimo pra eu me reconhecer enquanto uma mulher do hip hop, ver que existem centenas de mulheres pelo Brasil inteiro no mesmo corre que você dá força e coragem para que a gente não desista no meio da caminhada” , diz a rapper.

Rever – Como você começou a participar das rodas rimas?

Clara de Noronha – O primeiro free que eu mandei foi na roda de rima que teve na pista de patins da Cinelândia, há uns quatro anos atrás, lembro que meu amigo Avicena me chamou pra colar e eu fiquei tipo, encantada de ver como aqueles caras faziam aquilo ali na hora, de improviso, fiquei morrendo de vontade de rimar também, nesse dia acabei mandando uns dois versinhos pois não me contive ( risos) e depois disso já era.  Nessa época começou a gerar as rodas de rima na pista de skate, todas as quartas-feiras, esse dia da semana se tornou sagrado pra mim e para os MCs que colavam, por mais que eu tivesse receio eu me desafiava a tentar, os meus amigos do rap sempre me incentivaram a rimar, às vezes eu ficava meio sem graça por ser a única mina presente, mas me jogava. Acho que esse apoio foi muito importante pra que eu não deixasse de participar.

R – Quem são as suas influencias na música?

CN – Acho que influências na música a gente sempre tem um monte, as minhas vão do MPB ao funk e o rap não preciso dizer nada né? Acho que não passo um dia sem escutar hip hop, mas creio que minhas maiores influências hoje em dia são as mulheres da cena, não apenas por me reconhecer nas letras que elas fazem, mas as meninas acabam se tornando referência pra nós que tamo começando, acho minha maior influência do rap nacional hoje em dia é a banda RAP PLUS SIZE composta por Sara Donato e Issa Paz, que inclusive farão um show aqui em Aracaju no dia 18 de Março, nem vou falar que já não me agüento de ansiedade…

R – E como você vê o hip hop em Sergipe?

CN – O hip hop sergipano se tornou um terreno fértil pra caralho, têm gente fazendo rap da sul a norte desse Estado, e se eu fosse citar todos que resistem diariamente na cena eu correria o risco de deixar muita gente boa de fora, mas acredito que muita gente vêem representando muito bem a cena do rap SE.

R – Você acha que existe diferença do que é produzido aqui no nordeste para o que é produzido no sul/sudeste?

CN – Acho que a influência do sudeste e do sul ainda é pesada, mas a cada dia que passa acredito que a galera que tá nos corre aqui tem feito muita questão de se auto-afirmar enquanto nordeste e suas raízes, afirmar sua identidade mesmo. Não acho que haja diferença enquanto qualidade, o rap que é produzido aqui no nordeste e mais especificamente em Aracaju é tão bom quanto qualquer outro, o que falta é visibilidade, a galera olhar mais pra nós…o que já vem acontecendo gradativamente depois de Sulícidio, que teve seu papel importante para a cena nordeste reconheço, mas não pra todos, como a própria Lady Lay canta no seu single “DISSrespeito à mulher”, as mulheres ainda seguem sendo invisibilizadas na cena, mas tamo correndo atrás do no espaço também!

- VÍDEO -

R – Ainda são poucas mulheres fazendo rap em Sergipe, o ambiente ainda é muito machista?

CN –  A sociedade é machista, e o movimento hip hop não é uma bolha isolada do resto da sociedade. Ainda são poucas mulheres no movimento, mas hoje temos um número significativo de mulheres envolvidas no movimento se comparado há alguns anos atrás, o que me deixa extremamente feliz, porque nos dá a sensação de que não estamos sozinhas e que se precisarmos a outra vai estar ali contigo, pra de dar um apoio e um empurrãozinho se necessário, mas ainda hoje eu diria que ser mulher dentro do movimento hip hop é um verdadeiro ato de resistência, uma vez que mesmo com todo o debate sobre opressões em ascensão, a cena ainda é extremamente hostil para as mulheres, é muito difícil pra nós chegar e meter as caras, mas estamos juntas exatamente pra isso, encorajar umas as outras a ocupar esse espaço que também é nosso com o tempo eu aprendi que se a gente não fazer por nós mesmas os caras não farão, é preciso correr atrás e lutar com unhas dentes pela nossa visibilidade, e é isso que estamos fazendo, participando das batalhas, escrevendo músicas, produzindo cyphers, fazendo beats, a mulherada ta cansada de ficar na platéia ouvindo caladas as merdas que muitos MCs propagam por aí, viemos pra conquistar nosso espaço, e não é sendo rostinho bonito não e sim com o microfone na mão! Não precisamos de “privilégio” porque somos mulheres, precisamos de respeito!

Rappers sergipanas (Foto: Bruna Noveli)

R – Você lançou esse ano o clipe da música Contraindicação fale um pouco desse trabalho

CN -Sim, lancei esse som no início de fevereiro e tô muito feliz com a repercussão que ele teve, em menos de duas semanas o vídeo alcançou mais de mil visualizações no youtube e eu fico muito grata pelo reconhecimento que a galera teve ao trampo, e esse trampo só foi possível porque mais pessoas se envolveram e fortaleceram o corre, como é o exemplo de Saulo Beatmaker da Família BocaSecas que fez toda produção do som, desde o beat à captação de áudio e também as meninas do audiovisual Júlia Tavares e Carolen Meneses que produziram o clipe! Eu to feliz pra caralho na real, agradeço muito a todas essas pessoas que me ajudaram, tem muita gente foda aqui em Aracaju e sem eles esse vômito não estaria na rua tão cedo…

R – Por fim, estamos no inicio do ano, além do clipe o que mais vem por ai em 2017?

CN – Pois é, 2017 é o ano da gente tirar as coisas da gaveta, apesar de escrever há um bom tempo só agora que to buscando a colocar as paradas na rua, há um ano mais ou menos eu comecei a cantar com a minha parceira Líria Regina, fizemos então o Guerrilheira, que tem alguns sons escritos mas nada gravado ainda, esse ano vamos buscar gravar nossos sons e botar pra gerar, além disso, eu e Líria estamos participando de um projeto com mais duas Mcs e uma poeta aqui de Aracaju. Para além do projeto com as meninas, o Guerrilheiras terá novidades em 2017. Logo menos estaremos divulgando nossa formação oficial  que contará com a junção da MC  Raíssa Sampaio em nossa banca, a mulherada têm se unido, o corre independente é foda, mas ta moscando quem achar que as minas não estão em movimento…!


Publicado originalmente no Rever Online (14 de março de 2017). 

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